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21 maio 2014

Travesti é agredida após se defender de homem que a abusou em ônibus



Uma travesti de Aracaju – Sergipe publicou um relato na rede social Facebook contando a agressão que sofreu dentro de um ônibus a caminho da faculdade. Segundo ela, um homem colocou três dedos em sua bunda.
Ao notar o suposto abuso, ela deu uma cotovelada no rapaz, que negou a ‘mão boba’. O problema é que um dos passageiros tentou ‘tranquilizar’ o homem informando que ele não havia abusado de uma mulher e sim de um ‘traveco’. Após uma discussão, se sentindo humilhada, a travesti decidiu descer do ônibus e levou um chute do passageiro que a agrediu verbalmente. Ela teve as mãos e os joelhos ralados. Um boletim de ocorrência foi registrado em uma delegacia da cidade.
Leia o relato na íntegra:
Eu estava indo para a faculdade, onde curso psicologia... Quando senti que havia algo estranho entre as minhas pernas, não tinha ninguém atrás de mim, só do meu lado. Quando virei a cabeça para a direita e vi que o homem ao meu lado estava com a mão esquerda pra baixo, e essa mão estava entre as minhas pernas. Ele afastou a mão quando viu que eu olhei, só que como eu não havia dito nada, o fato voltou a acontecer. O motorista acabou parando o ônibus bruscamente em um sinal, e eu pude sentir que a mão do rapaz havia subido e estava na minha bunda. Virei a cabeça rapidamente, e os três dedos dele estavam encaixados entre a minha bunda.
Sou alta, mais alta do que ele, eu tenho 1,85. 
O meu braço direito estava na barra de cima do ônibus, foi esse mesmo braço que eu abaixei e dei uma cotovelada no homem. Eu disse BEM ALTO:
"Você perdeu alguma coisa com a mão na minha bunda?" 
- E-e-eu não to com a mão ai não, foi a bolsa.
"FOI A BOLSA O CARALHO! VOCÊ VAI PASSAR VERGONHA AGORA PRA NÃO REPETIR ISSO COM MENINA NENHUMA! ISSO QUE VOCÊ FEZ É UMA INVASÃO!"
- Moça você tá louca, tá vendo coisa, foi a bolsa!
"NÃO ESTOU LOUCA, EU VI A SUA MÃO! VOCÊ ESTAVA ME APALPANDO!"
Como vocês sabem, eu sou TRAVESTI. Eu me identifico como Mulher. Mas não posso negar a realidade de que a minha voz é masculina - ainda mais quando exaltada.
Um outro rapaz, ao me ver gritando com esse POBRE HOMEM que não tinha "culpa de nada" (tadinho, ele estava até chorando para não ser moralmente culpado)... Começou a rir e disse:
- Você não apalpou uma mulher não rapaz, isso é um viado! Um traveco! Deve tá indo fazer programa!
Eu, respondi muito perplexa com as pessoas - inclusive mulheres - do ônibus que estavam rindo da situação, achando ENGRAÇADO que ele tenha se ENGANADO na hora de "encoxar".
Como se eu não pudesse ter direitos, eu já sou OUSADA o suficiente para viver.
 "Eu sou TRAVECO sim! Eu ESTOU INDO PARA A MINHA FACULDADE! E NINGUÉM! MESMO QUE EU FOSSE A MAIOR PUTA DO BRASIL TERIA O DIREITO DE ENCOSTAR A MÃO NA MINHA BUNDA! VOCÊS MULHERES DEVERIAM ME APOIAR AO INVÉS DE RIREM DE MIM, POIS ESSA MINHA REAÇÃO VAI IMPEDIR QUE ESSE NOJENTO FAÇA COM VOCÊS, O QUE ELE FEZ COMIGO."
Esse rapaz que disse que eu era traveco tirou uma faca da mochila que usava e mandou eu descer do ônibus, ninguém disse nada. Segundo ele mesmo "Ele ia tirar o demônio do meu corpo!" Deus é sempre usado como escudo pra quem quer justificar preconceitos. 
Todo mundo havia parado de rir. Estavam de espectadores... Esperando "O Justiceiro" acabar com a escória, acabar comigo. Eu - Que não tenho direito ao meu próprio corpo, que se reclamar sou errada. Que devo agradecer que alguém me queira. Que sou usada como referência pela sociedade - "Aquela mulher é tão feia que parece uma travesti!" "Fulana é homem ou mulher?" "Beltrano comeu um traveco, deve tá cheio de doença!"
Não desci, esperei ele guardar a faca e disse calmamente a ele que o ônibus tinha câmera. 3 meninas pediram pra descer do ônibus e ele deu espaço pra elas descerem, aproveitei e desci com elas. Nisso, ele me deu um chute enquanto eu estava no ultimo degrau. Cai no chão. Riram de mim. Minhas mãos ralaram. Meu celular quebrou. Fiquei deitada na avenida Tancredo Neves (Em frente a faculdade onde estudo). O lixo. Ele - não satisfeito - desceu e deu dois chutes na minha cabeça e disse que meu lugar era ali. No asfalto. Que eu deveria agradecer porque ele não meteu a faca em mim.
O ônibus foi embora.
Todos estavam na janela, olhando pra mim. Nenhuma mulher gritou, nenhuma mulher me ajudou. Nenhuma mulher. Haviam várias.
Uma senhora desceu do carro que estava atrás e me deitou na calçada. Pegou meu celular e ligou pra minha mãe.
Minha mãe só disse:
"Eu estou indo pra ai agora! Porque você reagiu?"
- Mãe, eu cansei.
Vou amanhã ao IML e já fui na empresa de ônibus da minha cidade, vou conseguir essas gravações.
Fiz também um B.O, a delegada não acreditou que eu era uma Travesti. Ela me disse que eu lembrava a filha dela... Só não na altura, me pediu pra deixar 30 cm pra filha que é pequenininha... Mas só pude deixar minhas lágrimas.

Sociedade, você criou pessoas doentes.

Por: Redação Bocão News

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